POÉTICA DO COTIDIANO

Textos, Frases, Cartas, Poemas, Canções, Diálogos, Interrogações... Todas as palavras que preenchem o nosso dia-a-dia... com muita poesia!

terça-feira, setembro 13, 2011

PEQUENO TRATADO SOBRE O (O MEU) AMOR.

“... e foste um difícil começo,
 afasto o que não conheço
 e quem vive outro sonho feliz de cidade
 aprende depressa a chamar-te realidade
 porque és o avesso do avesso
do avesso do avesso...”
Caetano – SAMPA


            Eu não gosto de ser invasiva com a vida das pessoas. Impor minha presença, aprofundar os limites que me estabeleceram é uma coisa quase impensável. É o meu senso de Liberdade e Respeito.
            Por isso não procuro o tempo inteiro, não ligo todos os dias, não imploro companhia. Não invado a vida, só contarás a mim o que quiseres, o que achar necessário. E terá espaço para isso se quiser e haverá também espaço para o silencio, tão necessário e tantas vezes tão difícil de achar. Mas se não sentir reciprocidade, aí já foi... descarto maiores aproximações.
            Porque é assim também que gosto que sejam comigo, não gosto que me invadam, que me adulem, que transgridam minhas regras. Só entra em meu mundo quem eu permito e até onde eu permito. Só conto o que eu quero, se não julgar necessário, falar pra quê, pode ser a menor besteira, pode ser o maior segredo.
Mas todo mundo encara isso como falta de Amor. Não é. De jeito algum. Eu vivo pra dentro e é assim também que amo, pra dentro.
            Vou demonstrar, claro, que amo, nas sutilezas, no olhar, no jeito de me entregar. Dificilmente, nas palavras, talvez nas escritas, nunca nas ditas. Nos convites, nas invenções loucas, nas coisas divididas, nos poucos presentes, nos sorrisos sinceros. Tudo em mim, todo gesto é uma forma de dizer eu te amo, sem precisar ser piegas. A divisão de um sentimento sobre a vida, uma música ou um filme. O Amor por mim é sentido nas afinidades, de pensamento, principalmente. Se pensou igual, fluiu, é isso.
            É preciso um pouco de sensibilidade e percepção, mas com certeza o trato com quem eu amo é diferente com o resto do mundo. Talvez não seja fácil perceber, entendo que as pessoas têm seus próprios medos e limitações, suas próprias formas de amar. O problema é só identificar o Amor, na forma conhecida, não permitir outras.

8 comentários:

Renata Rimet disse...

É interessante este modo de ser, porém quando observamos o universo a nossa volta, recheado de seres tão estranhos, embora se digam tão semelhantes o que vamos percebendo é que o "eu" de cada um para ser compreendido precisa ser partilhado e muito do que(as vezes) sofremos é por simplesmente acreditar que todos estão observando o mundo girar a partir da mesma ótica; talvez seja preciso falar mais que afastar, expor mais que esconder, mas tudo isso vale a pena se "e" apenas se desejarmos um pouco de compreensão daqueles que são amados e insistimos manter a distância...

Nefasto Curvatório disse...

Guriiiiiiiiiiiiiiia... Tu é muito contida ou engano meu? Você ama pra você...rs... foi o que entendi, o texto ficou lindo, e mas tu é muito educada heim, poupa a pessoa de palavras nem sempre necessárias, será verdade? Gostei de ver. Beijos.

Musa disse...

Não sei, Fá e Rê, mas o texto surgiu por causa das cobranças que eu seja diferente, mas é meu jeito, não sei se quero mudar( o que pode ser pra melhor, ou não), então é quase um pedido que me entendam, que me aceitem...

Obrigada pelos coments!!!

Abraço,

Anônimo disse...

Fauuu!!!
:D
Minha gêmea!!! rs
Também sou muito assim, me identifiquei em cada linha...
Eu só acrescentaria que em raras ocasiões é bom declarar em palavras o amor. Dizê-lo... também é importante. Isso me lembrou um poema :



Quero que todos os dias do ano
Todos os dias da vida
De meia em meia hora
De 5 em 5 minutos
Me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
Creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
E no seguinte,
Como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
Que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
Pois ao dizer: Eu te amo,
Desmentes
Apagas
Teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
Isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
Nem sei de outra maneira a não ser esta
De reconhecer o Dom amoroso,
A perfeita maneira de saber-se amado:
Amor na raiz da palavra
E na emissão,
Amor
Saltando da língua nacional,
Amor
Feito som
Vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
Inexoravelmente sei
Que dexaste de amar-me,
Que nunca me amaste antes.
Se não disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamoamo,
Verdade fulminante que acabas de dentranhar,
Eu me precipito no caos,
Essa coleção de objetos de não-amor.



Carlos Drummond de Andrade

Priscila Mércia disse...

É preciso muito amor, para compreender as diversas formas de amar...O amor silencioso só é dito na hora da perda.

Esyath disse...

Musa,

pôxa... achei totalmente sincero. Acho que se desde o começo limites fossem estabelecidos... os relacionamentos seriam menos problemáticos.
Precisamos amar as pessoas como elas são, mesmo que isso implique claro em por conta disso aprendermos a fazer concessões...
Aos poucos o amor vai crescendo, tomando forma e encontra o meio termo adequado para ambas as partes...
Agora nós... mesmo tendo nossos limites... também precisamos compreender os alheios e ceder um pouco quando for necessário...
Quer um exemplo?
Sempre tive uma certa reserva sabe? Tanto sobre demonstrações de afeto direta, quanto sobre meus assuntos pessoais... Não conseguia me abrir e falar tudo... E meu namorado na época... Era o oposto... sabe este tipo de gente que conta até sei lá... quantos pães comprou na padaria? rs.
No começo meio que nos completávamos e ele não se sentia sufocado por mim... Porque eu procurava separar o nosso relacionamento das minhas angustias pessoais...
Mas isso foi criando um abismo entre nós, porque ele começou a achar que não me conhecia de verdade... E pior sentia que eu estava passando por muitos problemas, mas que não compartilhava... Até que um dia, tivemos uma discussão bem desgastante... onde ele deixou bem claro que não podia continuar comigo porque eu era uma pessoa altamente fechada e que não sabia compartilhar as coisas...
Nesse dia... eu chorei muito. E tipo... explodi... coloquei tudo pra fora. Eu não contava as coisas, porque achava q ele já tinha seus próprios problemas e que não era certo sufocá-lo com os meus... Achava que devia resolver tudo só, porque afinal era a minha e não a dele... E principalmente porque achava que não suportaria o julgamento dele... Porque tipo... ver o olhar de condenação e de desprezo em quem se ama... Pode ser cruel. Ver como de um momento para o outro alguém muda a maneira como te vê... pode doer muito.
Mas ao contrário de tudo o que eu esperava...
Só vi nele naquele dia compreensão e apoio. Foi como se um peso houvesse saído dos meus ombros. Eu continuo achando que devemos ter nossos espaços e limites... Mas o que realmente importa precisa ser compartilhado, porque querendo ou não... Quando nos envolvemos com alguém e a amamos... Não vivemos apenas a nossa vida pessoal... Mas passamos a viver também uma vida conjunta... Enfim... Mas isso levou bastante tempo para que eu compreendesse como compreendo hoje. Cada um tem seu espaço, mas temos principalmente todo um espaço de vida juntos... rs.

Enfim gostei muito do post.

Beijos (Des)conexos!

Marcella disse...

Às vezes, palavras são necessárias...

Claudia Magnólia disse...

tá lindo!